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Aprender e descobrir

Agentes de uma sala de aula ativa

Uma mesma atividade desenvolvida em organizações espaciais distintas pode render resultados diferentes. Resultados preciosos que auxiliam o(a) docente a conhecer melhor sua turma e os caminhos que podem ser tomados, de modo que favoreça a aprendizagem de cada integrante dela. 

Por: Bernoulli | Em: 20/03/2023

Em qual contexto você acredita que seja possível “transver o mundo”? Se pensarmos na sala de aula como um espaço de curiosidade e de inquietude, não há limites para as possibilidades. Uma sala de aula não se restringe ao espaço físico com mesas e quadro, mas a todoambiente que possibilite o desenvolvimento dos sujeitos que estão ali, envolvidos no processo de aprendizagem. A sala de aula tem potencial para ser um espaço irrequieto, carregado de lembranças, um ambiente para experiências e muita criação. Você já parou para pensar como esse lugar pode ser um facilitador ou um inibidor da aprendizagem?

 

A sala de aula, quando posta como um espaço facilitador da aprendizagem, favorece a troca entre estudantes, a produção de conhecimento coletivo e a realização de atividades. Até mesmo a organização de uma sala pode interferir na maneira como os estudantes interagem durante a aula. A depender da intencionalidade, os educandos podem estar em rodas, em duplas, em meia- lua, em pé! Eles podem estar enfileirados, em grupos ou em um grande mesão.

 

Uma mesma atividade desenvolvida em organizações espaciais distintas pode render resultados diferentes. Resultados preciosos que auxiliam o(a) docente a conhecer melhor sua turma e os caminhos que podem ser tomados, de modo que favoreça a aprendizagem de cada integrante dela. 

 

É preciso que o docente compreenda os diferentes papéis que assume em uma sala de aula ativa. É fundamental compreender que ele(ela) não apenas prepara aulas, mas, edifica as estruturas de maneira a apoiar os(as) estudantes, ensinando, mediando, norteando e realizando curadoria de propostas. Nessa caminhada, contando com o olhar e com a colaboração dos estudantes, eles se tornam coautores de tais produções. Dessa forma, no planejamento, docentes e discentes são protagonistas no processo. Significa que cada aula é única e, mesmo que abordem um mesmo assunto, nunca serão iguais, porque sempre haverá novas experiências, novas lembranças e novas turmas.

 

O(A) docente que assume a postura de professor-curador entende que a informação já está nas mãos dos estudantes, a um clique de distância. Por isso, é preciso contribuir para que essa informação se transforme em conhecimento, que os estudantes ampliem e tenham habilidades para selecionar o que surge de significativo com base em suas próprias pesquisas.

 

É preciso que, enquanto docente, compreenda-se que não deve se apresentar como transmissor(a) do conhecimento, mas assumir um papel de quem conecta saberes, contextualiza e registra descobertas. Dessa forma, o(a) docente se posiciona também como mediador(a), tendo em mente que é preciso refletir sobre o fazer pedagógico e se dispor no processo de aprendizagem como alguém que sabe escutar, trocar, explorar, comunicar, provocar, estimular o questionamento e instigar mais que responder, de maneira que encoraje reflexões e levantamentos de hipóteses e, a partir disso, a pesquisa junto aos estudantes para a construção do conhecimento.

 

Por outro lado, está o estudante, esse ser que está imerso em um contexto de mudanças rápidas, realidades múltiplas e simultâneas. É preciso compreender as necessidades e ansiedades desses estudantes. Se, há alguns anos, já havia questionamentos sobre as práticas de aulas expositivas como principal abordagem nas salas de aula, agora, está ainda mais inviável em um contexto segundo o qual a velocidade com que as informações chegam está cada vez mais acelerada, assim como a assimilação dos acontecimentos do mundo ao nosso redor é feita de outra maneira. Isso não quer dizer que as aulas expositivas devam ser deixadas de lado. Em algumas situações, elas são essenciais. Chamamos atenção para a importância de uma linguagem dialógica no processo de aprendizagem ativa. Para esse estudante, é fundamental a construção de sentido, a reflexão, a autonomia e a sensação de pertencimento.

 

Em um estudo feito por Jo Boaler em duas escolas inglesas, Amber Hill School e Phoenix Park School, a pesquisadora analisou abordagens pedagógicas distintas para o ensino-aprendizagem de matemática de um grupo de estudantes da mesma faixa etária e com níveis socioeconômicos iguais, baseado pelos empregos dos pais. Na primeira escola, Amber Hill, a abordagem era tradicional e os (as) professores(as) se dirigiam para a frente do quadro, apresentando os conteúdos de Matemática. Na segunda escola, Phoenix Park, era utilizada a aprendizagem baseada em projetos. Quando os ex-estudantes dessas escolas estavam com 24 anos aproximadamente, Boaler entrou em contato para saber a utilidade do ensino de matemática que vivenciaram. Conheça um relato feito pela autora em seu livro “O que a matemática tem a ver com isso?” sobre percepções e conclusões após o estudo: […] Enquanto os jovens da Phoenix Park falavam de matemática como uma ferramenta de resolução de problemas, e geralmente eram muito positivos em relação à abordagem de sua escola, os alunos da Amber Hill não conseguiam entender por que a abordagem matemática da escola os havia preparado tão mal para as exigências do trabalho. Bridget falou com tristeza: “Nunca teve relação com a vida real, não sinto. Não sinto que tinha. E eu acho que teria sido muito melhor se eu pudesse ter entendido no que eu poderia usar esse negócio… porque isso ajuda você a saber por quê. Você aprende porque é assim e porque acaba ali. E eu absolutamente acho que relacionar com a vida real é importante. (BOALER, 2019, p. 61)

 

Nesse caso, Bridget era aluna de Amber Hill e, em seu depoimento, fica evidente como a aprendizagem sem significado ficou marcada como uma experiência escolar frustrante. Por outro lado, em outro depoimento fornecido à autora por um estudante que integrará o corpo docente da Phoenix Park, é possível perceber uma memória completamente diferente sobre a aprendizagem em matemática: Quando perguntei a Paul, gerente sênior de um hotel regional se ele achava que a matemática que aprendera na escola era útil, ele disse: “Suponho que havia muitas coisas que posso relacionar com matemática na escola. Sabe, trata-se de ter uma espécie de conceito, não é, de espaço e números e de como você pode relacionar isso com o passado. E então, tudo bem, se você tem uma ideia sobre alguma coisa e como você usaria a matemática para resolvê-la… Eu suponho que a matemática envolve resolução de problemas para mim. É uma questão de números, de resolução de problemas, de ser lógico”. (BOALER, 2019, p. 61)

 

Apesar do foco do estudo de Boaler ser experiências no ensino- aprendizagem de matemática, acreditamos que relatos como esse se repetirão para outros componentes curriculares em que o(a) estudante não tenha estado no centro do processo. Memórias e reflexões sobre os impactos da Revolução Industrial na atualidade, o clima de diferentes regiões para as quais uma pessoa viaja ou o uso da vírgula não terão sentido caso os estudantes só copiem o que foi posto no quadro. Para que a aprendizagem tenha significado, é importante que o(a) estudante faça parte do processo ativamente do início ao fim.

 

Considerando as construções feitas até o momento, convidamos você a ler e refletir sobre a charge a seguir.

 

Tirinha de 2 passarinhos conversando sobre a educação.
Instagram: @escoladepassarinhos

 

No cenário apresentado nessa obra, como você acredita que tenha sido o processo de aprendizagem do passarinho? Quais memórias e experiências você acredita que ele tenha vivido durante sua aprendizagem? Por fim, adaptando a pergunta inicial: como você acredita que seja possível transver a educação atual, de modo que o(a) estudante esteja no centro da aprendizagem?

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