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Reflexão

O que é avaliar?

A avaliação deve ser entendida como uma ferramenta fundamental para o processo de ensino e aprendizagem, e não apenas como uma medida de desempenho estudantil.

Por: Bernoulli | Em: 20/02/2023

É muito comum associarmos avaliação com prova ou exame. Entretanto, é preciso diferenciar essas duas práticas. O exame é caracterizado pela classificação e seleção do estudante, embora, claro, possa ter outras características. Enquanto a avaliação é caracterizada pelo diagnóstico e pela inclusão de todos no processo.

 

Segundo Luckesi, o ato de examinar está voltado para o que já aconteceu, pois ele quer saber do estudante apenas o que ele já aprendeu e classificá-lo com notas. O que ele aprendeu não é levado em consideração posteriormente. Distintamente, a função da avaliação é investigar a qualidade do desempenho dos estudantes, visando realizar intervenções para melhorar os resultados, se necessário. Por isso, ela gera conhecimento sobre o estado de aprendizagem deles, sendo importante tanto o que o estudante já aprendeu quanto o que ainda não aprendeu (LUCKESI, 2013).

 

A avaliação deve ser entendida como uma ferramenta fundamental para o processo de ensino e aprendizagem, e não apenas como uma medida de desempenho estudantil. Devemos enfatizar a importância de uma avaliação que possa orientar o processo de aprendizagem do estudante, e não apenas como um exame que se limite a medir o resultado. A avaliação permite que o professor acompanhe o desenvolvimento discente ao longo do processo de aprendizagem, identificando suas dificuldades e ajudando os estudantes a superá-las.

 

Outro aspecto importante sobre o processo avaliativo é a necessidade de que os critérios de avaliação sejam claros e coerentes com os objetivos educacionais. É preciso que os professores saibam exatamente o que estão avaliando e como farão isso, para que a avaliação não se torne um fim em si, mas, sim, um meio para alcançar os objetivos educacionais. 

 

Cabe ainda ressaltar que a avaliação não é uma atividade destinada apenas aos estudantes, mas, sim, uma ação que se estende aos professores, escolas, objetivos de aprendizagem e ao processo educacional todo. As avaliações são muito importantes para garantir que as aprendizagens estipuladas pela BNCC sejam alcançadas e devem ser parte integrante do processo pedagógico. Além de ser uma ferramenta para medir o nível de conhecimento adquirido pelos estudantes, as avaliações também desempenham um papel crucial no monitoramento contínuo do processo educacional e fornecem uma referência clara para que os professores e gestores possam promover intervenções pedagógicas efetivas.

 

Mas no que constitui, na prática, uma avaliação?

 

Podemos dividir o ato de avaliar em 3 etapas:

 

1- Matriz de referência: É a escolha do que será avaliado, especificando a matriz de referência a ser utilizada. Cabe ressaltar que a matriz de referência é apenas um recorte da matriz curricular. Esta traz as competências e habilidades previstas na BNCC e os desdobramentos nos currículos e propostas pedagógicas de cada instituição. Uma matriz de referência descreve os objetivos de aprendizagem de uma avaliação e os critérios usados para avaliar o desempenho do estudante. É uma forma de comunicar claramente as expectativas de aprendizagem aos estudantes e aos avaliadores. Indica o que o discente deve ser capaz de fazer em relação ao objetivo de aprendizagem em um determinado nível de desempenho.

 

2 – Construção de um instrumento: nesta etapa, temos que produzir um instrumento capaz de aferir o que se deseja avaliar. Na elaboração desses instrumentos, é importante serem levadas em consideração as pluralidades das infâncias e das juventudes dos sujeitos atendidos e a necessidade de diversificação, de inovação e da promoção do protagonismo estudantil. Entendemos, portanto, que um olhar mais inovador sobre as avaliações agregará valor pedagógico e promoverá o engajamento dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem. 

 

3 – Análise dos dados: Aqui iremos, por meio dos dados coletados pelo instrumento de avaliação, compará-los com a referência e produzir evidências sobre o desempenho dos estudantes. É pela análise dos dados que conseguimos mapear as habilidades e competências desenvolvidas e a desenvolver pelos estudantes.

 

Intervenção Pedagógica: Existe ainda uma quarta etapa, que não faz parte do ato de avaliar, mas é inerente a ele: a intervenção pedagógica ou o que iremos fazer com os resultados das avaliações. Os professores e a coordenação pedagógica da escola devem construir um plano de ação que entenda que o resultado não diz respeito somente ao estudante individualmente, mas deve considerar o conjunto, seja no nível da turma ou em toda a escola. 

 

Avaliar é como dar uma olhada no que foi feito e dizer o que funcionou e o que não funcionou. Enquanto o planejamento diz o que fazer, a avaliação ajuda a decidir o que fazer a seguir, ou seja, como a escola deve agir para que os estudantes desenvolvam as habilidades e competências desejadas. Assim, a avaliação e os dados que ela apresenta são extremamente importantes para pensar as ações pedagógicas intencionais que seguirão o processo de avaliar e, eventualmente, corrigir a rota para que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados.

 

As avaliações protagonistas são estratégias pedagógicas que buscam promover a participação ativa dos estudantes no processo de avaliação do seu próprio aprendizado. Aqui apresentaremos algumas sugestões que podem potencializar a forma de executarmos nossas avaliações. 

 

a) Rubricas: instrumentos que potencializam habilidades Uma rubrica é um instrumento de avaliação que mostra muito claramente as expectativas para a realização de determinada tarefa. É produzida por intermédio das descrições dos níveis de aprendizagem consonantes às intencionalidades planejadas pelo(a) professor(a). 

 

Para ser efetiva, a rubrica precisa conter:

 

A descrição detalhada dos critérios que nortearão a produção de determinada tarefa;

  1. O detalhamento da(s) habilidade(s) a ser(em) desenvolvida(s);
  2. Uma escala que mostre os diferentes níveis de desempenho;
  3. A descrição de cada nível de desempenho para cada aspecto da tarefa

 

Em um primeiro momento, essa construção parece ser trabalhosa, porém a execução é simples, pois cabe ao avaliador apenas verificar qual nível de desempenho foi performado pelo estudante. Isso economiza muito tempo, caso haja o desejo de usar a rubrica para a atribuição de nota ou de conceito, uma vez que os níveis de desempenho podem ser previamente associados às notas ou aos conceitos que os estudantes receberão. Há várias outras vantagens:

 

Infográfico com os benefícios da Rubrica na educação

 

b) Seminários de Inovação ou Feiras de Iniciação Científica As Feiras mobilizam nos estudantes uma série de habilidades e de competências, abrangendo o eixo das linguagens em todos os segmentos, além de dialogarem com os quatro eixos estruturantes do Novo Ensino Médio. Pelo fato de essas atividades serem interdisciplinares, potencializam as competências socioemocionais, estimulam grande engajamento nos estudantes e possibilitam a criação de um produto final que pode e deve ser amplamente divulgado pela escola, concedendo visibilidade e empoderamento aos estudantes.

 

As Feiras científicas permitem que os estudantes organizem, na medida de suas capacidades, um evento para apresentar à comunidade os resultados de seus trabalhos. Os estudantes podem produzir e distribuir convites ou ingressos para a audiência, preparar e ornamentar o espaço físico do evento, providenciar o registro ou a transmissão do evento por mídias sociais e, o mais importante, definir pontos, como a ordem de apresentação e o controle do tempo, para realizar a apresentação dos resultados das pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas de conhecimento. 

 

c) Aprendizagem por pares Alguns estudantes aprendem quando os colegas ensinam. Desse modo, professores podem dividir a turma em equipes, de tal forma que toda equipe tenha, aproximadamente, um terço de seus membros com alto desempenho, um terço com desempenho mediano e um terço com baixo desempenho. Essas equipes devem trabalhar colaborativamente (não necessariamente na sala de aula), realizando atividades, como a resolução de uma lista de exercícios, a produção de um estudo dirigido, ou em outra atividade à sua escolha.

 

 Para garantir o engajamento de todos, realize, na sequência, uma prova ou um teste individual e, após sua correção, atribua a mesma nota a toda a equipe, usando um critério preestabelecido. Pode ser a média simples, ou a média após a exclusão da melhor e da pior notas, ou pode ser, ainda, a nota mediana da equipe. Uma boa estratégia de aprendizagem por pares é o Método Trezentos, que consiste em estudantes que se ajudam mutuamente, por meio de grupos potencialmente colaborativos e de metas cuidadosamente planejadas. Após cada avaliação de aprendizagem de uma determinada disciplina, grupos mistos são formados com estudantes com bom e baixo rendimentos nessa avaliação. As metas são determinadas para serem trabalhadas pelos grupos em um prazo estipulado pelo professor.

 

Cumpridas essas metas, os estudantes com baixo rendimento fazem uma nova avaliação e, geralmente, melhoram suas notas, resgatando, também, sua autoestima e retomando o gosto pela matéria. Os estudantes com alto rendimento aprimoram suas notas iniciais de acordo com a melhoria dos colegas ajudados e com o nível de ajuda oferecido ao grupo.

 

d) Clubes de aprendizagem Individualmente ou em equipes, os estudantes participam de feiras empreendedoras em seu território; de olimpíadas de conhecimento, promovidas por entidades acadêmicas que diferem da própria escola, mas são reconhecidas por ela, como as Olimpíadas Brasileiras de Matemática, Astronomia, Química, de Linguística entre outras, incluindo as internacionais ou de apresentações em feiras profissionais, oferecidas por universidades parceiras da escola e presentes no território onde a escola está inserida. Os estudantes também podem e devem frequentar cinemas e teatros, com peças e produções culturais de interesse pedagógico ou, ainda, participar de eventos como as maratonas de conhecimento ou Hackathon, oferecidas por entidades reconhecidas pela escola ou por se envolverem em situações de voluntariado social. Enfim, qualquer atividade reconhecida pela escola, mas não organizada por ela, que ocorra em outros ambientes e aos quais nem todos estudantes tenham acesso. 

 

Sob a orientação dos professores, os estudantes produzem algum material relatando seu aprendizado nessas atividades. Pode ser a produção de relatório escrito, podcast ou vídeo ou ainda a realização de palestra para outros estudantes da escola. Outra ideia é a produção mais ligada à parte socioemocional, narrando não o conhecimento obtido, mas, sim, o modo como ele (estudante) esperava se sentir, como realmente se sentiu ao participar do evento e como lidou com essas emoções.

 

Os critérios para a avaliação dos participantes devem ser previamente definidos, destacando a quantidade de eventos realizados, as formas de comprovação da participação e as maneiras de apresentação das aprendizagens.

 

e) Elaboração de mapas mentais Os mapas mentais são estratégias presentes nas abordagens dos docentes, além de serem técnicas de estudos dos próprios discentes, para que haja a construção e organização de forma mais eficiente dos conhecimentos. 

 

Cognitivamente, são ferramentas poderosas para o desenvolvimento da síntese – e seu processo de produção contempla desde o resgate de habilidades mais simples, da ordem da compreensão, até as mais complexas. Portanto, avaliar com a utilização dos mapas mentais permite aos docentes a mensuração efetiva do conhecimento dos estudantes, além de oportunizar a produção de materiais que podem ser expostos em portfólios, conforme sugerido anteriormente.

 

É importante, ao se trabalhar com mapas mentais, que as abordagens sejam diversificadas, para que não fique maçante para o estudante. É uma estratégia eficiente para fechamentos de etapas, de capítulos ou de projetos. As rubricas podem ajudar na mensuração dos mapas produzidos pelos estudantes, fornecendo critérios objetivos a serem avaliados pelos docentes.

 

f) Produções audiovisuais Na era digital, as produções audiovisuais contemplam inúmeras perspectivas avaliativas. Entende-se por uma produção audiovisual qualquer produto que utilize uma linguagem comunicativa que consiga abarcar imagem, som e movimento. Nesse sentido, uma gama imensa de possibilidades se abre aos estudantes, que já se encontram familiarizados com tais abordagens. 

 

Tais produções proporcionam aos estudantes o desenvolvimento de diversas habilidades, como a comunicação, a síntese e a cultura digital. Pode-se criar uma rubrica geral que contemple toda e qualquer produção audiovisual elaborada pelos estudantes ou, então, criar rubricas específicas. As produções audiovisuais podem ser categorizadas:

 

avaliações externas

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